"Dizem que a motivação não dura. Bem, o banho também não. Por isso ele é recomendado com freqüência." (Zig Ziglar)

domingo, 22 de novembro de 2009

Dislexia

Perry F. Finck, Ed.S.

Definição de “dislexia”

Nesse artigo, o uso da palavra “dislexia” se refere ao que ocorre a um indivíduo quando as letras e/ou os números de uma página parecem ser diferentes das letras e/ou os números que realmente estão na página. Ou, quando uma pessoa com visão não em túnel parece ter uma visão em túnel somente quando ela vai ler as palavras e/ou os números de uma página.

Uma fobia tem valor de sobrevivência

Através da história, o homem teve que lutar contra fenômenos naturais que exigiam uma ação direta e decisiva. Os exemplos seriam as enchentes passageiras, incêndios violentos, nevascas, furacões e assim por diante. Nós devemos tomar cuidado quando estas coisas acontecem. Se não, nós morremos. Ao mesmo tempo em que prestamos atenção ao problema, a nossa atenção fica limitada somente a este problema. O nosso campo de visão está confinado. Nós só enxergamos e vemos o grande problema. Quando ouvimos uma pessoa nos contar sobre o que sentiu numa situação de risco à vida, como estar envolvida num assalto à mão armada, ela diz que tudo viu foi um revólver e que ele era muito grande. Somente quando assistimos essas coisas de longe ou nos filmes, é que podemos ter uma visão mais ampla. É aí que nós podemos ver a grande imagem e a arma no seu tamanho real. Mas para os “disléxicos,” como para a pessoa colocada numa situação de risco à vida, tudo está distorcido.

Nós somos bem protegidos para sobreviver a um ataque e ainda permitir que os outros da nossa espécie também vivam. Conseqüentemente, o nosso cérebro lógico está mais afastado da mão dominante. Enquanto uma pessoa pode não sobreviver a um ataque, outras conseguem. Mais uma vez, os nossos cérebros ficam paralisados e temos um campo de visão limitado para sermos capazes de nos precaver contra o problema da ameaça à vida que está acontecendo.

Se você escutar uma pessoa, que esteve numa situação de risco à vida, contando sua história, muitas vezes vamos perceber que ela está tremendo ou re-experimentando aquela situação. Se prestarmos bastante atenção na maneira que uma pessoa “disléxica” lê, nós poderemos ouvir o medo na sua voz.

“Dislexia” é transmitida da mesma maneira que difundimos as fobias

Mais uma vez, como princípio de sobrevivência, nós percebemos que a criança imita o adulto. Historicamente, se a criança não fizer isto e se houver uma fera atacando, ela entregaria a localização do adulto e da criança. Através da imitação, é muito fácil ver que assimilar uma reação fóbica de um dos pais, numa tenra idade, é uma necessidade. Isso é um exemplo de fobia sendo transmitida para a criança, por assim dizer, de segunda mão. De uma maneira similar, o adulto que não consegue ler ou que tem grandes problemas com a leitura, pode transmitir o seu medo do mesmo modo que ele transmitiria o medo de uma fera ou de qualquer outro evento que poderia trazer ameaça à vida real. A criança vê o adulto tentando ler, tendo problema emocional com a leitura. Esse é um exemplo de como a fobia pode ser transmitida.

Hoje positivamente não é apropriado admitir ter medo. Se espera que enfrentemos os nossos medos e que sintamos prazer em enfrentá-los. As pessoas escalam penhascos, partem em divertidas cavalgadas e assim por diante. Mas como a criança, nós não somos suficientemente espertos para dizer que contraímos o medo como uma forma de proteger a nossa comunidade e a nós mesmos. No entanto, quando nos perguntam, é muito comum dizer que não estamos com medo, mesmo que estejamos. Isso é por causa da maneira que fazemos a pergunta para a criança, quando não damos nenhum espaço para que a criança responda de forma afirmativa. Nós perguntamos: “Você não está com medo da escola ou da leitura, está?” Como pode alguém responder que sim? Quando uma criança ouve a pergunta “Você teve um bom dia na escola hoje?,” como pode a criança dizer: “Não, eu estava assustada.” A criança é bastante inteligente para saber que se ela admitir que está com medo, vai se tornar alvo de zombaria. Ou talvez será colocada numa situação de terror com a enganosa crença de que ela irá amadurecer com isso. Ao invés de ajudar a eliminar o problema, essa ação somente atua para intensificar o problema.

Então porque a “dislexia” é percebida na nossa sociedade principalmente entre os meninos? Nós supomos que todos os meninos são iguais. Porém nós sabemos que não existem duas pessoas iguais, nem mesmo os gêmeos idênticos são iguais. Na escola, o professor é muitas vezes mulher e os professores são avaliados pela maneira que conduzem a classe. Manter todas as crianças sentadas ainda é essencial por que como alguém pode aprender se tiver uma interrupção? Há pouco tempo, talvez nenhum, para ensinar a criança como se comportar, e como pode uma criança fóbica se comportar se ninguém reconhece o medo que ela está experimentando? Portanto, o professor assume que a criança sabe como se comportar, e só grita a ordem de comportem-se, e nunca entende que aqui existe muito mais do que apenas uma disputa de desejos.

A “dislexia,” com certeza, responde aos métodos da PNL que tratam da fobia. Eu sugiro um swish visual. Eu o tenho usado com grande sucesso para aqueles com problemas de provas e até já o expus no “NLP Connection,” uma antiga publicação da The National Association of Neuro-Linguistic Programming. Eu também o usei em casos em que descobri a “dislexia” acidentalmente.

O método

O método funciona ao mover a pessoa um passo para fora do problema e permitir que a pessoa associe o medo a uma cor de sua escolha. (Eu descobri que quando eu escolho a cor para ela, a eficiência do método era de apenas 80%, mas chegava perto dos 100% quando a pessoa com problema escolhia a sua própria cor. Algumas escolhiam cores que eram exatamente a oposta da que eu escolheria e essas pessoas conseguiram sucesso porque as cores eram significativas para elas.) O uso da cor é fortalecido quando o indivíduo a associa a várias submodalidades diferentes. Eu pergunto pelas submodalidades questionando: a cor é brilhante ou opaca? A cor está perto ou longe, exatamente quão longe? A cor é densa ou tênue? A cor é forte ou suave? Quanto do campo de visão tem a cor? Pode ter qualquer cor associada com essa cor também? E se for sim, então eu examino as mesmas submodalidades com a nova cor. Esses exemplos não são importantes para mim, mas são essenciais para a pessoa com problema. Isso define para essa pessoa a amplitude e o alcance do problema e coloca limites indispensáveis no problema. Do contrário o problema abrange tudo e não tem limites ou início e fim.

Em seguida, uso o mesmo método para trabalhar com o que, as vezes, eu apresento como a “sensação oposta.” Ele escolhe uma outra cor para essa sensação e me informa. Esse sistema também pode ser usado eficazmente com um grupo. Num grupo, eu encorajo os indivíduos a não falarem em voz alta, dizendo algo como: “Cada um de vocês pode ter a sua própria cor e o que funciona para você pode não funcionar para a pessoa ao seu lado. Então use apenas a sua própria cor.” (Nota: não faz nenhuma diferença que cor alguém escolhe, ou uma das suas cores ou quais submodalidades que eles usam. Existe apenas uma exceção para o preto ser a cor boa porque essa é muitas vezes a cor escolhida por aqueles que querem escapar da realidade. Preto pode ser usado, mas isso significa que precisa ser feito mais trabalho com a pessoa. Somente as submodalidades precisam ter uma diferença significativa para eles. Eu tive um estudante que escolheu a mesma cor com diferentes submodalidades e o sistema funcionou.

A próxima etapa é fazer um pequeno quadrado num pedaço de papel grande. (Na parte inferior esquerda porque é lá que a maioria guarda as suas sensações.) Então digo para eles pensarem que a cor ruim está no espaço grande e que no quadrado pequeno está a cor boa. Faço eles irem primeiro para a cor ruim porque é isto que está mais forte na mente deles e também porque representa o problema deles. Só depois de definir o problema é que se pode trabalhar na sua solução.

Em seguida, eles devem se imaginar colorindo o espaço maior com a cor ruim usando lápis de cor e depois colorindo o espaço pequeno com a cor boa. Isso iguala as sensações deles: estão oprimidos pelas más sensações e com pouca confiança nas boas sensações. Neste ponto, eles devem colorir com a cor boa sobre a cor ruim de tal modo que não sobre mais cor ruim. Então faço com que repitam esse exercício três ou mais vezes. E depois, devem repetir o exercício mais três vezes usando uma pintura spray, o que torna o exercício mais rápido. Por último, eles fazem o exercício no computador onde todo o swish pode ser feito pressionando apenas uma tecla. Enquanto completam o ultimo exercício, eles devem fazer uma pausa entre cada swish e manter um sorriso no rosto até se sentirem bem, e depois exalar como num suspiro de alívio. Deste modo eu os obrigo a se moverem numa velocidade instantânea e ainda continuar, mais tarde, com a sensação.

Situações e estudo de casos

Eu usei esse método tantas vezes com sucesso que pensei que ele funcionaria em qualquer coisa. Mas eu estava errado. Ele não funciona quando uma pessoa sente que ela está AGORA numa situação muito ameaçadora e vê uma correlação direta entre o que está acontecendo agora na vida dela e o medo real. As vezes a pessoa vai relatar que não consegue reter a cor boa.

Eu tive o que inicialmente parecia ser um insucesso quando usei esse método com uma mulher que tinha um marido que abusava dela. Ao perceber que o método não estava funcionando, tentei outra coisa. Eu tentei a Terapia da Linha do Tempo e descobri que ela se sentia do mesmo jeito com o marido como ela se sentia com seu pai muito rigoroso, onde sempre nada estava certo. Ela correlacionava a situação com o marido com a primeira vez em que tentou aprender a ler com seu pai. De novo, sempre nada estava certo. A terapia da linha do tempo funcionou e permitiu que ela se sentisse uma pessoa significativa por seus próprios méritos. Ela não só abandonou o marido como também melhorou a sua leitura.

Eu tive um outro estudante que me contou que não conseguia visualizar. Eu expliquei que iria usar o método da cor para tentar relaxá-lo. Ele disse: “Como o método Lamaze?” Eu disse que sim, lembrando-me da máxima que diz que “a pessoa tem dentro dela mesma a capacidade de ser bem sucedida.” Ele usou o método Lamaze e começou ler o seu primeiro livro, menos de uma hora depois de tê-lo ajudado tanto da “dislexia” como do DDA. (Eu também usei os métodos do Dr. Don Blackerby para ajudá-lo a obter a imagem do que ele lia. Isso eu consegui fazendo-o desenhar num papel as imagens das frases elementares que eu escrevia no papel.)

Eu tinha um estudante, a quem eu estava ensinando a ler, que tinha múltiplos problemas. Depois de ver alguns resultados com essa técnica, ele assimilou a ferramenta e começou a usá-la em todos os seus problemas. Ele fez sem mudar as cores e sem me consultar. Só me contou como estava fazendo e como isso estava ajudando tudo na sua vida.

Eu não sei se esse método irá realmente funcionar melhor para aqueles com “dislexia” do que os outros métodos da PNL, ou mesmo os outros métodos de ajuda que podem ser usados para a fobia. Eu sei que ele funciona em menos de 10 minutos do início ao fim. O fato de ser rápido é uma grande vantagem para muitos que ficaram desanimados com tantos anos de tentativas infrutíferas para aprender a ler.

Em comparação, um dos mais velhos métodos que eu sei para ajudar aqueles com “dislexia” é o seguinte: primeiro, um optometrista irá ensinar o método de treinamento dos olhos. Os exercícios com os olhos servem para expandir o campo visual da pessoa com problema. O método as vezes funciona. Basicamente, a pessoa faz o exercício usando seus olhos, isso fortalece os músculos dos olhos e capacita a pessoa a ter um campo de visão mais amplo. Depois de muitas horas de prática e muitas viagens para aprender o treinamento, as vezes a pessoa tende a generalizar esse trabalho com aquele da leitura e não estará mais presa pela visão limitada quando for ler.

O desenvolvimento desse método

Eu usei primeiro o método do colapso de âncoras para aqueles que tinham problemas com provas, apesar deles saberem a matéria. Tive muitos obstáculos para compreender como ser capaz de trabalhar com somente uma pessoa de cada vez. Eu li sobre os índios americanos que usavam uma espécie do método Swish para curar doenças (usando pinturas na areia). Depois li sobre o conceito do swish para ajudar aqueles com fobias no livro “Transformando-se”. A partir dessas fontes, esse método parece ser natural. O método podia ser usado sem que eu precisasse estar lá e disparar as âncoras. Eu precisava criar a ponte para o futuro do problema e dizer: “A maioria de vocês não terá nenhum problema no futuro. Mas se um de vocês tiver algum problema, basta que você mesmo pressione a tecla do computador se você se achar numa situação em que precise fazer isto no futuro.”

Quando fui instrutor na Força Aérea, eu tive um estudante que trouxe sua esposa para que ela o ajudasse com os temas de casa. Eu não sabia que ele era “disléxico” porque ele nunca me disse. Ele somente me procurou quando fiz um anúncio de que poderia ajudar aqueles que tinham problemas com provas, mesmo quando sabiam a informação. No final, ele ficou tão agradecido que me deu a insígnia que havia recebido na conclusão do curso.

Mais tarde, tive outros dois estudantes, de quem eu ouvi muito medo nas suas vozes depois de ouvi-los ler em voz alta. Eu perguntei a eles qual era o problema? Eles me disseram que foram diagnosticados como “disléxicos.” Disse que podia ajudá-los se fossem voluntários. Eu os ajudei usando o método acima, e em menos de duas semanas, estavam lendo com a mesma velocidade e fluência do que os outros estudantes. No último dia com esses dois estudante, eu lhes perguntei o que tinham achado do método. Ambos disseram que era ótimo e que era melhor do que tudo que já tinham feito.

Eu me ofereci como voluntário para o “Learn to Read of Northwest Florida” (Aprender a Ler do Noroeste da Flórida) aqui em Pensacola. Eu descobri que o método era ótimo para muitos que nunca foram capazes de aprender a ler. Quando também apliquei o método do Dr. Don Blackerby, em que a pessoa faz imagens na sua mente do que lê, esses indivíduos foram capazes de prestar atenção no que estavam lendo mesmo com dúzias de outros falando em volta, enquanto eu ajudava a pessoa a ler. Eu ficava mais perturbado com as outras pessoas na sala do que os meus alunos.

Nós também podemos ler mais rápido

Muitos descobrem que precisamos expandir a nossa visão quando lemos mais rápido. Nós lemos devagar porque estamos com medo de perder algo. Também sub-vocalizamos pela mesma razão. E lemos nesta velocidade para garantir que entendemos como fomos ensinados quando estávamos na escola primária.

Os desenvolvimentos nesta área, em ordem cronológica, incluem: treinamento da visão, Evelyn Wood, Super Learning relatado por Sheila Ostrander e outros, Photo Reading e um método chamado de Olho Q. Todos eles tentam encorajar o indivíduo a relaxar. Somente o método do Super Learning parece fornecer técnicas que realmente foram projetadas para evitar diretamente o medo. Entretanto, se a pessoa se sentir oprimida pela música, esse método também fracassa.

Se você tem problema em ler rapidamente, pode querer experimentar um método rápido e fácil que pode lhe ajudar muito. Você pode encontrar o sucesso se simplesmente experimentar o swish como descrevi.

Artigo publicado na revista Anchor Point vol. 18 no. 8 (2005)

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Amor e ódio nascem no mesmo lugar, dizem cientistas

Imageamentos cerebrais revelam onde o ódio se forma, e parece não ser muito diferente do amor

por Katherine Harmon

Dizem que o amor vem do coração, mas e o ódio? Pesquisadores estão em busca dos fundamentos neurológicos do ódio, assim como da música, da religião, da ironia e de outros conceitos abstratos. A ressonância magnética funcional (RMf) começa a revelar como essa forte emoção se inicia no cérebro.

No ano passado, o neurobiólogo Semir Zeki, do Laboratório de Neurobiologia da University College London, liderou um estudo que mapeou os cérebros de 17 adultos enquanto contemplam imagens de pessoas que eles admitiram odiar. Na tela nota-se que áreas no giro frontal medial, putâmen direito, córtex pré-motor e ínsula medial foram ativados. Os pesquisadores observaram que partes do chamado “circuito do ódio” também estão envolvidas no início de um comportamento agressivo, mas sentimentos intrinsecamente agressivos ─ como raiva, perigo e medo ─ apresentam padrões cerebrais diferentes dos do ódio.

Certamente o ódio pode surgir de sentimentos positivos, como o amor romântico ─ na figura de um ex-parceiro ou rival em potencial. O amor, porém, parece desativar áreas tradicionalmente associadas com o julgamento, enquanto que o ódio ativa áreas do córtex frontal que podem estar relacionadas com a avaliação de outra pessoa e previsão de seu comportamento.

Algumas associações com o amor, entretanto, são surpreendentes, observam os autores do estudo publicado em outubro de 2008 na PLoS ONE. As áreas do putâmen e ínsula ativadas pelo ódio são as mesmas das do amor romântico. “Essa ligação pode explicar porque amor e ódio estão tão intimamente relacionados nas pessoas.”

No entanto, esse estudo inicial não convenceu a comunidade científica de que essas são as raízes neurológicas do ódio. “Ainda é realmente muito cedo”, observa Scott Huettel, professor-associado de psicologia e neurociência da Duke University, não envolvido no estudo. Outras emoções, como felicidade e tristeza, já são mais bem compreendidas, acrescenta. “Até sensações como arrependimento têm coordenadas neurais bem definidas.”

O próximo passo, segundo Huettel, será realizar mais pesquisas sobre aspectos bem específicos e tipos de ódio ─ incluindo ódio contra grupos de pessoas em vez do ódio a uma única pessoa ─ e depois testá-las em diferentes situações. Também será importante estudar casos em que partes do cérebro tenham sido danificadas e tendências emocionais tenham sido alteradas. “Se a ativação positiva e a debilidade, de uma região do cérebro danificada, forem identificadas, já será um bom indício de que se encontrou, pelo menos, uma parte do circuito”.

Para que serve o ódio, ainda é uma questão debatida. Embora alguns argumentem que o sentimento oferece uma vantagem evolucionária ─ poderia ajudar as pessoas a decidir quem confrontar ou desprezar ─, Huettel observa que, da mesma forma que se identifica um circuito neural dedicado, tudo não passa de “um palpite bem dado”.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Para reconhecer mentiras

por Marc-André Reinhard

Como podemos perceber se estamos sendo enganados? Existem sinais claros que indicam uma mentira, algo que possa ser comparado à tão conhecida metáfora ao nariz do Pinóquio que se tornava cada vez maior quando ele ocultava a verdade? Infelizmente não. Durante muito tempo as pessoas acreditaram que podiam identificar um mentiroso por comportamentos ou sinais corporais – como coçar a cabeça com frequência; movimentar-se de forma agitada ou ficar com as faces coradas. No entanto, um grupo de pesquisadores coordenado pela psicóloga Bella M. DePaulo, da Universidade da Califórnia, em Santa Barbara, Estados Unidos, garante que normalmente não é isso que acontece. Em 2003 ela já havia reunido e analisado resultados de 120 estudos sobre os sintomas físicos que acompanham mentiras. Conclusão: os estereótipos raramente são verdadeiros; em geral, mentirosos não escorregam nervosos na cadeira, nem evitam o contato visual de seu interlocutor.

Na verdade, para a maioria das pessoas é realmente muito difícil discernir se uma declaração é verdadeira ou falsa. Foi a essa conclusão a que chegaram Bella e seu colega Charles F. Bond, da Universidade Cristã do Texas, em 2006, em, outro estudo sobre o tema. Para tanto, os dois pesquisadores resumiram os resultados de 206 estudos sobre a cota de acertos em julgamentos sobre credibilidade. No total, apenas 54 desses julgamentos sobre a veracidade ou não de uma declaração estavam corretos, um valor estatisticamente pouco significativo – que talvez pudesse ter sido atingido também por meio de pura adivinhação. Mas convém levar em conta que, na média, os sujeitos reconheceram mais frequentemente afirmações verdadeiras do que mentiras. No entanto, há estratégias com as quais as enganações podem ser descobertas com alguma margem de segurança.

Tomando por base os estudos levantados por Bond e Bella, pesquisadores da mesma equipe compararam diversos canais sensoriais. Ao analisar os resultados dos exames, os estudiosos chegaram à conclusão de que sinais acústicos ajudam mais a reconhecer engodos que visuais: nos experimentos, os sujeitos podiam diferenciar de forma mais nítida as mentiras quando ouviam a declaração duvidosa com atenção, em vez de observar o falante, à procura de sinais reveladores.
Se os participantes assistiam a um vídeo sem som, a cota de acertos eram apenas aqueles 50%, obtidos também por adivinhação. Mas se durante a exibição das imagens eram apresentadas as vozes correspondentes, a cota de acerto de seus julgamentos aumentava para 54%. Mais uma vez, nada assombroso, mas de qualquer forma, havia uma alteração estatística. O que de fato surpreendeu os pesquisadores foi que o resultado não foi pior quando somente o som foi apresentado sem imagem. Ou seja: quem se concentra apenas no comportamento não verbal do outro reduz suas chances de desmascarar um mentiroso. Aparentemente, nossos olhos se deixam enganar mais facilmente e, no final das contas, contribuem pouco para a descoberta de afirmações falsas.

Por isso, vale a pena prestar atenção principalmente no que uma pessoa diz, ficando alerta, por exemplo, para possíveis contradições. Especialistas afirmam que os mentirosos contumazes são, em geral, pouco plausíveis e lógicos. Além disso, raramente admitem que tenham de corrigir sua descrição ou que não consigam se lembrar de algo – para “encobrir os brancos da memória” eles simplesmente inventam informações. Se a pessoa ainda parece nervosa e fala em tom mais alto do que o de costume, então devemos ter cuidado: ela tem grandes possibilidades de estar mentido. Os estudos avaliados por Bond e Bella também revelaram que vários participantes conseguiram reconhecer as declarações falsas de forma mais clara quando o mentiroso foi pego de surpresa e não teve tempo de planejar o que diria. Por isso, cobrar explicações imediatas pode desmascarar um potencial discípulo do Barão de Münchhausen.

Na opinião do psicólogo Aldert Vrij, pesquisador da Universidade Britânica de Portsmouth, uma boa estratégia é fazer a pessoa da qual desconfiamos que esteja mentindo falar o máximo possível. Nesse momento ela precisa pensar rapidamente e corre o risco de contradizer-se. E quanto mais ela falar, mais difícil será para ela controlar tanto o conteúdo do que diz quanto o próprio comportamento. Portanto, pedir para que repita trechos do que foi dito também costuma ser eficaz para detectar brechas nos discursos. “Essa técnica de interrogatório, muito conhecida de romances e filmes policiais, revela-se, de fato, sensata”, observa Vrij.

No entanto, os defensores da lei não são fundamentalmente melhores em detectar mentirosos. Juízes e psiquiatras, aos quais é comum atribuirmos, intuitivamente, uma capacidade de detecção de mentiras acima da média, tampouco obtiveram melhores cotas de acerto nos testes, segundo Bond e Bella. Da mesma forma, não há diferença entre homens
e mulheres, descobriu o psicólogo Mike Aamodt da Universidade Radford, estado da Virgínia, Estados Unidos, ao realizar outra análise, em 2006. Além disso, a idade e o grau de instrução de uma pessoa pouco influenciam sua capacidade como detector humano de mentiras.

VANTAGEM DA INSEGURANÇA
Junto com o psicólogo Patrick Müller, da Universidade de Utrecht, na Holanda, investiguei em 2008 outra hipótese, elaborada com base em pesquisas antigas: como a insegurança emocional leva as pessoas a ficar mais atentas ao outro e a prestar mais atenção ao conteúdo de suas afirmações, ela poderia ajudar a diferenciar mentiras e verdades. Com a ajuda de um questionário, inicialmente registramos o grau de insegurança emocional individual de 600 voluntários. Em seguida, cada um assistiu a um vídeo com oito relatos de pessoas que descreviam como tinha sido para elas enfrentar a prova para obtenção da habilitação como motorista. Mas havia um porém: apenas a metade dos relatos era verdadeira, as outras pessoas ainda não tinham carteira de habilitação nem vivido a experiência de passar pela prova.

Realmente, quanto mais inseguros emocionalmente os participantes se sentiam, melhor puderam reconhecer os falsos relatos. A fim de demonstrar que a insegurança era mesmo o motivo dessa capacidade, e não apenas um efeito colateral, realizamos um segundo experimento, no qual elevamos a insegurança artificialmente. Para isso, pedimos a uma parte dos sujeitos de nossa pesquisa que respondesse a duas questões: “Você é acometido de que emoções quando pensa em assistir televisão? Como você se sente fisicamente quando assiste à televisão?”. Essas perguntas não têm nenhuma relação com insegurança e, portanto, não poderiam influenciá-los. O verdadeiro grupo-teste foi objetivamente manipulado: “Você é acometido por quais emoções quando se sente inseguro? Como você se sente fisicamente quanto está inseguro?”. Um questionário aplicado em seguida aos participantes do experimento comprovava: depois de responder a essas duas perguntas – que evocavam determinadas emoções –, os sujeitos se sentiam, em geral, mais inseguros que os membros do grupo de controle.

Em seguida, todos os participantes assistiram a duas sequências de vídeo, nas quais as pessoas falavam sobre filmes que apreciavam muito ou que não gostaram nem um pouco. Os sujeitos do grupo manipulado – ou seja, os que estavam mais inseguros – diferenciaram melhor entre relatos verdadeiros e falsos: eles classificaram corretamente, em média, 58% dos depoimentos. Os integrantes do grupo de controle, por sua vez, tiveram uma cota de acerto de apenas 50% – mais uma vez idêntica à esperada ao acaso.

Portanto, convém evitar o excesso de confiança quando tentar desmascarar um mentiroso. Afinal, não é novidade que quem acredita já saber uma resposta procura apenas por indícios que a comprovem – independentemente de sua veracidade. E, por fim: se tiver de admitir que foi enganado por alguém, não fique muito chateado. Talvez seja um consolo saber que outras pessoas também passam por isso, como mostrou outro estudo publicado pelos psicólogos Bond e DePaulo em 2008. Segundo eles, os indivíduos pouco se diferenciam em sua habilidade de reconhecer invencionices – a maioria de nós é um verdadeiro fracasso como detector de mentira. Já a amplitude da capacidade individual de contar inverdades é maior, de forma inversamente proporcional. O espectro vai do perfeito enganador até o Pinóquio humano, no qual se percebe uma mentira mesmo a 10 metros de distância. Conclusão: para desmascarar alguém, dependemos menos de nossa própria capacidade – e quase exclusivamente da habilidade do outro de esconder a verdade.

Marc-André Reinhard é doutor em psicologia social e pesquisador da Universidade de Mannheim, na Alemanha.

Matéria publicada na revista Mente & Cérebro, edição 202 - Novembro 2009

terça-feira, 3 de novembro de 2009

A PNL e o alívio da dor crônica

Não é nenhuma surpresa que podemos aprender muito sobre o alívio da dor da própria PNL. A origem da PNL repousa parcialmente no trabalho do hipnoterapeuta Milton H. Erickson, cuja habilidade de aliviar dores foi estudado por Richard Bandler e John Grinder em um dos seus primeiros livros (1975, pp. 26-50). Já nos anos de 1850, o cirurgião inglês James Esdaile (1957) demonstrou que a hipnose podia remover a dor aguda das maiores cirurgias, muito confiável e efetiva se comparada com a anestesia química.

Existiram muitos estudos mostrando como e em que grau a dor artificialmente induzida podia ser aliviada pela hipnose, mas isso agora está bem estabelecido visto que os resultados clínicos do método de longe ultrapassaram aqueles experimentais (Hilgard e Hilgard, 1994). Colocando de uma maneira simples, é muito mas fácil parar a dor de uma pessoa prestes a ser cortada numa cirurgia real do que parar a dor que você induziu experimentalmente ao pedir para um voluntário mergulhar a mão numa água com gelo por alguns minutos.

Esse fato em si nos diz algo extremamente importante sobre o alívio da dor pela "hipnose." Ela trabalha melhor quando a pessoa realmente necessita que ela funcione. A técnica da hipnose não é uma droga que irá funcionar não obstante a atitude da pessoa. Ela é uma técnica que aproveita a atitude da pessoa. De fato, a dor, como veremos tanto nas pesquisas como nos estudos de casos, é fortemente determinada pela atitude da pessoa. Esse é o motivo pelo qual o hipnoterapista Joseph Barber (1996, pp. 20-21) recomenda que a hipnoterapia para o alívio da dor só deve ser usada quando:

1) O cliente, mais tarde, não irá tirar vantagem do estado hipnótico para se machucar (p.ex., evitando avaliação e tratamento médico necessário; obviamente, alguém com dor permanente é beneficiada ao ter as causas físicas verificadas cuidadosamente antes que você remova o seu desconforto).

2) O cliente não irá perder outros benefícios por padecer de dores (p.ex., compensação financeira advinda de ação legal; esses benefícios são muitas vezes chamados de "ganho secundário").

3) O cliente pode administrar a interação pessoal envolvida ao falar com um hipnoterapeuta.

4) O cliente está disposto a assumir a responsabilidade para iniciar o seu próprio tratamento.

A dor e a mente

A pesquisa da dor em si é intrigante porque a dor não é o fenômeno que muitas pessoas pensam que é ...ou colocando de outro modo, a dor em grande parte é o que as pessoas pensam que é. Vamos explicar...

A pele, os músculos, os ossos e os outros tecidos têm células nervosas com terminações especializadas para responder somente a estímulos fortes o suficiente para causarem danos aos tecidos. Esses terminais são chamados de nociceptores e eles se tornam mais sensíveis com estimulação continuada (diferente de muitas terminações nervosas as quais se tornam menos sensíveis pela estimulação prolongada). Tecidos danificados liberam produtos químicos como prostaglandinas, a qual torna os nociceptores mais sensíveis, e drogas, como a aspirina, inibem a produção de prostaglandina.

Quando as próprias células nervosas são danificadas, os nociceptores podem falhar repetidamente, produzindo dor de longa duração (crônica) a qual não fornece mais ao cérebro informações úteis sobre um ferimento atual ou uma situação de perigo. As mensagens dos nociceptores são passadas através das células nervosas para a espinha dorsal, onde outras células especializadas que funcionam como interruptores, decidem se as mensagens têm prioridade suficiente para serem enviadas ao cérebro. Situações de perigo mais urgentes elevam a prioridade de uma mensagem de dor; porém as dores que acompanham as experiências seguras e agradáveis podem ser classificadas como irrelevantes e nunca chegam até o cérebro.

As substâncias químicas naturais do corpo chamadas de endorfinas (liberadas durante exercícios, massagens ou outra experiência positiva como atividade sexual) desligam as dores nesses casos, e opíoides, como a morfina, imitam a ação dessas endorfinas. O que esse processo do sistema nervoso central significa é que a pessoa que está contente por outras razões pode não sentir nenhuma dor.

Esses estímulos podem nem chegar perto do cérebro! Se as mensagens passam do sistema nervoso central, elas são transmitidas para o tálamo no cérebro e de lá para o sistema límbico, onde a pessoa responde a elas emocionalmente.

Um bebe que bate a sua cabeça pode sentir uma dor extrema enquanto estiver sozinho, mas vai relaxar quando for seguro por alguém conhecido que lhe dê carinho. Tais contextos emocionais tanto intensificam ou reduzem os sinais da dor muito antes dela atingir o córtex cerebral e são registradas conscientemente. No caso do bebe sendo "confortado" depois de bater a cabeça, o estímulo da dor pode ser sentido, mas sentido num contexto em que não é considerado significante.

Uma dor que persiste ou ocorre periodicamente por mais de seis meses é chamada de dor crônica. A dor crônica parece alterar o processamento do cérebro, pois lá existe uma atividade anormal nos nociceptores do córtex somato-sensorial (área de cérebro que finalmente registra em que parte do corpo ocorreu a sensação cinestésica). Quando o cérebro é explorado usando PET (tomografia de emissão de pósitrons) essa anormalidade é clara. Estudos feitos por Pierre Rainville, Catherine Bushnell e Gary Duncan (2001) mostram que sugestões hipnóticas podem aumentar ou diminuir essa atividade anormal na dor crônica, e por essa razão alteram a experiência da dor. Outros estudos mais recentes, usando fMRI (imagem de ressonância magnética funcional) mostram que a mera expectativa da dor produz 40% da reação produzida por uma dor "real" nos receptores da dor no córtex cerebral (Porro et alia 2002). Os pesquisadores Dennis Turk e Akiko Okifuji explicaram os resultados de diversos estudos mostrando que "em dor crônica, ansiedade relacionada a dor e medo podem realmente acentuar a experiência da dor... Quando pessoas com sintomas de dor são expostas a situações de temor (p.ex., subindo as escadas de um avião), alguns experimentavam uma grande quantidade de reações de fuga... Pacientes com medo parecem prestar mais atenção a sinais de ameaça e a serem menos capazes de ignorar informações relacionadas a dor." (Turk e Okifuji, 2002, pp. 679-680).

Em resumo, a "dor" como nós a conhecemos é basicamente um resultado do nosso pensamento sobre ela. Milton Erickson diz "a dor é uma idéia fixa, um constructo, composta de dores lembradas do passado, de uma dor experimentada no presente, e de uma dor antecipada do futuro... O estímulo imediato é somente um terço da experiência total. Nada intensifica tanto a dor como o medo de que ela estará ali no dia seguinte... De modo oposto, a realização de que a dor atual é um evento único e que chegará definitivamente a um final agradável serve muito para diminuir a dor." (Erickson, 1980, Vol. 4, p. 238).

Como a hipnose pode ser usada para mudar a dor

Isso não é para desmentir que a presente estimulação dos nociceptores no corpo irá muitas vezes conduzir para reações dolorosas. Nós estamos apenas chamando a atenção que experimentando dor por um período prolongado de tempo requer muito mais do que esta estimulação.

Pesquisas feitas por Harold Crasilneck e James Hall (1985, p.102) mostram que a bem sucedida melhora hipnótica da dor de origem orgânica ("física") se reduz, inicialmente, na mesma relação que a melhora advinda de analgésicos químicos como a morfina (i.e., o alívio da dor cessa dentro de poucas horas). Dor de origem funcional (i.e., incapaz de ser explicada pelas atuais condições físicas) pode ser imediatamente aliviada por dias, por semanas ou mesmo permanentemente. O próprio Milton Erickson sofreu de dor crônica orgânica e necessitava tratá-la diariamente (Erickson, 1980, Vol 1, p. 122). Ele notou que o sono geralmente terminava com o seu alívio hipnótico da dor, já que acordava necessitando restabelecer o estado. Por essa razão, muitos hipnoterapeutas recomendam ensinar auto-hipnose para os clientes se tratarem de suas próprias dores orgânicas.

Milton Erickson categorizou onze métodos de tratar a dor usando a hipnose (Erickson, 1980, Vol. 4, pp. 240-245). Essas categorias, as quais algumas se sobrepõem, são:

1) A dor desaparece com sugestão direta.

2) A dor desaparece com sugestão indireta (Erickson, no estudo do seu trabalho feito em 1957 por Bandler e Grinder, diz, por exemplo, na página 37 deste livro: "Você sabe, Joe, uma planta é uma coisa maravilhosa, e é tão agradável, portanto seja apenas amável ao pensar numa planta como se fosse um homem. Essa planta poderia ter sentimentos agradáveis, uma sensação de conforto...").

3) Criando amnésia para experiências passadas da dor.

4) Criando dormência ou analgesia na área dolorosa do corpo. Na hipnose tradicional isso é feito ensinando a pessoa a criar dormência na sua mão e então "transferindo" essa dormência para a parte afetada do corpo.

5) Criando uma amnésia mais completa ao fazer a pessoa se imaginar que está em algum lugar distante da dor.

6) Alterando as sensações de dor para sensações de calor, de afeto, de frieza ou outra sensação menos perturbadora.

7) Deslocando a dor para uma área do corpo mais controlável. (p.ex., movendo uma dor abdominal para a mão.)

8) Dissociação, p.ex., fazendo a pessoa imaginar que eles estão do outro lado da sala observando eles mesmos.

9) Reinterpretando a dor como uma sensação de lentidão, pulsação ou movimento.

10) Distorcendo a percepção do tempo para que um período prolongado de dor pareça passar muito mais ligeiro.

11) Insinuar que a dor irá se reduzir sozinha muito gradualmente; tão gradualmente que a pessoa nem consegue acompanhar se isto está ou não acontecendo.

Essas categorias não cobrem todas as possibilidades abertas para nós como practitioners de PNL. A pesquisa no relacionamento do medo com a dor nos faz lembrar que usando os processos de redução do medo, como a cura da fobia pela PNL, elimina muitas vezes também a dor. De um modo semelhante, a pesquisa mostra que qualquer metodologia que dá a pessoa um sentido de auto-eficácia (definido como a convicção pessoal que uma pessoa pode realizar quando for preciso nas ações da vida dele) irá reduzir a dor. (Turk e Okifuji, 2002, p. 680).

Existe alguma evidência nas pesquisas sugerindo que diferentes abordagens hipnóticas afetam diferentes estágios no processo da dor, exatamente como fazem diferentes drogas analgésicas (Donald Price "Hypnotic Analgesia: Psychological and Neural Mechanisms" in Barber, 1996, p. 67-84). Primeiro, algumas hipnoses parecem prevenir que a dor seja percebida pela mente consciente, embora permitam que o interior do cérebro a registre. Isso produz o que alguns pesquisadores como Ernest Hilgard chamam de um "observador oculto" (Hilgard e Hilgard, 1994). Em tais circunstâncias, quando é solicitado aos pesquisados para fazerem um sinal não verbal se eles tiverem dor (p.ex., pressionando um botão), eles sinalizam ainda que conscientemente informem que se sentem bem. De modo especial isso parece ocorrer quando métodos, como a dissociação, são usados para tratar da dor. Segundo, métodos de redução da dor que alteram diretamente o local da sensação, p.ex. produzindo dormência, parecem atuar no nível espinhal, impedindo de qualquer modo que a comunicação da dor atinja o cérebro. Um terceiro tipo de técnica permite a dor atingir a consciência mas altera emocionalmente o significado dela. Uma pessoa subindo uma montanha pode experimentar uma considerável "dor" mas a sua percepção de que isto é um evento excitante supera as sensações físicas.

Estudo de caso um: curando o medo cura a dor

Carmen veio me ver (Libu_ka) para tratar da dor na parte de baixo das suas duas pernas com fisioterapia. O tornozelo direito dela havia sido reconstruído cirurgicamente três anos atrás depois de uma grave distensão no ligamento lateral. Ela sofria de dores nas duas pernas por pelo menos um ano ou mais. Quando jogava softbol (beisebol feminino), ela amarrava as pernas com fita, mas sofria de graves dores depois de cada jogo. As duas pernas doíam durante todo dia, e a dor a mantinha acordada de noite. Ela já tinha tentado antes a fisioterapia, bem como exercícios prescritos por um fisioterapeuta específicos para serem feitos em casa, usava palmilhas ortopédicas no sapato e enrolava suas pernas com fitas. Todas essas intervenções tiveram sucesso limitado.

Quando a examinei, ela estava nervosa e ansiosa com o seu problema. Eu podia sentir o inchaço no seu tornozelo esquerdo, e ela queixou-se de sensibilidade nas duas panturrilhas, particularmente na esquerda. Eu tratei dela usando algumas técnicas de fisioterapia (massagem, ultra-som, acupuntura e uma revisão nos seus exercícios de casa). Depois de quatro tratamentos e muito pouco progresso, discuti com ela sobre a PNL e ela ficou entusiasmada para experimentar.

Carmen era muito cinestésica. Muito raramente olhava direto nos meus olhos enquanto falávamos, mas gesticulava muito e estava muito ‘em contato’ com as sensações no seu corpo. E logo ela revelou um medo que tinha havia muitos anos e era capaz de acessar as sensações que vinham junto com facilidade. Esse medo, ou fobia, era de subir qualquer coisa mesmo que parecesse insignificante. Escadas eram as piores pois ela se imaginava despencando escada abaixo pois era muito pesada. O mero pensamento de escadas, escadas de mão, cercas, ou mesmo levantar-se da cabeceira da cama, podiam lhe provocar um suador (eu fui testemunha disso enquanto ela falava disso), aumento das batidas do coração e fazer suas pernas tremerem que nem geléia. Eu lhe expliquei que existia uma possibilidade de que a dor na perna fosse resultado da proteção da sua mente inconsciente contra o medo constante que ela tinha todos os dias e que limitava muitas das suas atividades diárias. Com a permissão dela, eu decidi usar a ‘Cura da Fobia’ (Bolstad, 2002, p 57-64).

Cinco dias depois, eu fiz uma sessão de revisão com ela. Desde o momento em que ela deixou a clínica depois da cura da fobia, ela não teve mais nenhuma dor nas suas pernas. Para dizer a verdade, ela se sentiu tão bem que no dia seguinte foi jogar (sem as fitas) e as outras integrantes do time comentaram do seu entusiasmo no jogo. Ela me disse que estava jogando como ‘a velha Carmen,’ confiante e muita mais competitiva. Ela não experimentou nenhuma dor tanto durante como depois do jogo e se sentiu tão confiante que foi jogar de novo no dia seguinte. De novo, jogou melhor do que nunca, não sentindo nenhuma dor.

Carmen quase pulava dentro da sala, e percebia-se, ao ouvi-la dizer que se sentia ‘totalmente diferente,’ que ela parecia muito mais confiante. Eu verifiquei a sensibilidade nas suas pernas e, não considerando uma leve sensibilidade no seu tendão de Aquiles, não havia nenhuma outra marcante.

Ela conversou sobre seu velho temor e disse que isto não era mais um problema. De fato ela estava aguardando com interesse para subir no telhado (em segurança, acrescentou ela) para olhar as estrelas com sua filha. Isso, aparentemente, era uma atividade que a sua filha fazia com freqüência e ela, há muito tempo, queria que a sua mãe a acompanhasse. Suas palavras "Minha vida mudou totalmente, isso é quase mágica!"

Estudo de caso dois: pedindo para a mente inconsciente fazer o trabalho

Janet veio me ver (Richard) dez meses depois de uma cirurgia abdominal. Durante todo esse tempo, ela tinha uma dor muito violenta, e para agüentar, estava tomando 60 miligramas de codeína três vezes ao dia. A dor era mais violenta de manhã antes dela tomar a codeína e voltava toda vez que ela atrasava a dosagem. Um médico lhe disse "Bem, parece uma dor neuropática. Você provavelmente vai tê-la pelo resto da vida, portanto é melhor aprender a conviver com ela." Porém noutra oportunidade, uma enfermeira lhe explicou que, algumas vezes, as pessoas, depois de alguns anos, acordam um dia e simplesmente descobrem que a dor sumiu. Uma ressonância recente do seu abdômen mostrou que, embora a sua doença original tivesse sido removida pela cirurgia, existiam muitos tecidos conectivos que formam as cicatrizes deixadas pela terapia de radiação que ela havia feito. Isso a deixou convencida de que aquela dor era de origem orgânica, notícia que a deixou muito desolada.

Depois dos seus esclarecimentos, eu comecei lhe explicando a minha crença de que o seu corpo podia não somente curar os tecidos da cicatriz como também reorganizar os sinais nervosos, pois assim ela sentiria alívio. Eu enfatizei que a sua crença era um pré-requisito importante para o sucesso dessa mudança. Janet disse que ela também estava consciente, como psicóloga que era, de que tinha granjeado empatia e simpatia por ter um sintoma evidente para falar para as outras pessoas (a dor) e que tirando da mente a dor significava perder esse ganho secundário.

Eu a convidei para relaxar e levantei o seu braço, demonstrando uma catalepsia no braço (quando o seu braço flutua sob controle do inconsciente). Inicialmente, ela estava muito cética sobre essa demonstração, querendo saber se de fato o braço dela estava se movendo, mas depois de alguns minutos ela aceitou que ele parecia capaz de se mover para cima, para baixo e de um lado para outro sem que ela realmente "fizesse" o movimento. Eu chamei atenção dela que para fazer isto, a mente inconsciente dela tinha usado todas as habilidades que eram necessárias para curar totalmente a dor.

Depois pedi para a sua mente inconsciente mover um dos seus dedos para sinalizar "sim" e outro para o sinal "não." Esse processo de sinalização ideomotor me permite perguntar à sua "mente inconsciente" se ela sabia que tinha a capacidade de remover a dor, e se era aceitável para ela remover a dor. Uma vez que ela concordou em fazer isso, eu lhe disse para começar e para fazer suficientemente devagar para que Janet pudesse acreditar que isso era possível. Eu contei uma história para Janet sobre um outro cliente que veio me ver com dor, e com quem eu tinha usado a mesma técnica (descrita em Bolstad, 2002, pg 66-69). Depois fiz algumas sugestões sobre como a cética mente consciente dela poderia permitir que essa mudança acontecesse. O processo todo durou um pouco mais de meia hora.

No final da sessão, Janet contou que não tinha dor. Quando voltei a encontrá-la duas semanas depois, ela contou que não tinha tido nenhuma dor no dia seguinte e na metade do outro. "Eu me senti absolutamente bem!" A dor, disse ela, retornou em certas horas durante essas duas semanas e ela foi capaz de reduzi-la usando várias técnicas da PNL, incluindo estabelecer o objetivo de ficar sem dor por um dia na sua linha do tempo. Ela reduziu a sua medicação para 30 miligramas duas vezes ao dia e relatou que, além de tudo, o seu bem estar continuava a aumentar.

Conclusões

Esses dois casos demonstraram tratamentos de uma sessão usando processos ensinados na maioria dos treinamentos de PNL Practitioner e Master Practitioner. Eles claramente contam com a maleabilidade incrível da dor na nossa experiência humana. Em ambos os casos, os clientes tinham boa razão em acreditar que a dor deles era insolúvel; algo que deveria permanecer igual pelo resto de suas vidas. Usando duas técnicas da PNL completamente diferentes, nós demos a eles uma poderosa experiência com nossas pressuposições da unidade do corpo e da mente, do efeito da emoção e da memória no corpo e das suas próprias habilidades para tomar conta de suas vidas. Essas pressuposições fundamentais, as quais formam a base de nossas técnicas, nasceram de várias décadas de pesquisas em hipnose no alívio de dores, e pelos recentes estudos da ressonância sobre o alívio da dor.

Libu_ka trabalhou com sua cliente menos de um mês depois do seu treinamento inicial em Practitioner, demonstrando que essas habilidades podem ser aprendidas rapidamente por um confiante Practitioner.

Nós dois temos diversas experiências de alívios de dores usando a PNL. Para nós está claro que, embora o nosso background como profissionais da saúde nos permite fazer contato com tais clientes, acessar o seu estado médico e recomendar congrüentemente a PNL, esse background não é necessário para conduzir o presente processo que provoca a cura nesses casos.

Nossa esperança é que esse artigo provoque alguma pesquisa e indicações para inspirar outros Practitioners de PNL a alcançar resultados semelhantes. Por outro lado, esse também é um artigo em que outros profissionais da saúde podem se interessar. O que ele sugere é quase uma mudança radical nas técnicas de administração da dor.

Libu_ka Prochazka é fisioterapeuta, acupunturista e Practitioner em PNL.
Seu e-mail é libuska_@hotmail.com Este endereço de e-mail está protegido contra SpamBots. Você precisa ter o JavaScript habilitado para vê-lo.

Dr. Richard Bolstad é Trainer em PNL e enfermeiro registrado.
Seu e-mail é richard@transformations.net.nz Este endereço de e-mail está protegido contra SpamBots. Você precisa ter o JavaScript habilitado para vê-lo. e site: www.transformations.net.nz

Artigo original:NLP and Relief of Chronic Pain