por Tom Connelly
Após praticar a hipnose por algum tempo nós gradualmente desenvolvemos um sentido intuitivo que nos indica a profundidade do transe hipnótico que nossos pacientes estão experimentando. Esta impressão é provavelmente formada dentro de nós de várias maneiras, mas no início de nosso treino temos que contar com uma mistura de suposição e conhecimento ‘emprestados’ de livros e vídeos sobre hipnose e de nossos professores.
A maneira óbvia de se estimar o sucesso progressivo de sua hipnose é ficar atento às indicações ‘clássicas’ do aprofundamento do estado hipnótico. Alguns dos seguintes indicadores podem ser observados:
• Imobilidade
• Mudança na respiração
• Face pálida
• Postura desmoronada
• Movimentos dos olhos tipo REM
• Tremor palpebral
• Deglutição
• Lacrimação aumentada
• Vermelhidão em volta dos olhos
• etc.
Você será ensinado a prestar atenção nestes sinais (e outros) no início de qualquer curso de hipnose, mas a avaliação precisa da profundidade do transe somente acontece realmente quando o hipnotista pode avaliar estes sinais de acordo com sua experiência pessoal. Uma parte importante deste processo de aprendizado acontece quando o hipnotista desempenha o papel do paciente e experimenta a hipnose do ponto de vista de seus futuros clientes. Depois de ser hipnotizado várias vezes, o hipnoterapeuta obtém a perspectiva interior dos processos mentais envolvidos e uma empatia pela natureza física da hipnose. Uma boa experiência pode também ser obtida experimentando com a auto-hipnose e técnicas de relaxamento.
Além da experiência pessoal com a hipnose, é possível aprender muito com as reações verbais. Não tenha medo de perguntar aos seus pacientes a respeito de suas experiências com o transe, pois a maioria ficará feliz em descrever o ’sentimento’ da hipnose e muitos insights interessantes podem ser obtidos. Lembre-se que a hipnose é uma experiência subjetiva e que, apesar de que existem muitos elementos comuns nela, existe muita coisa que será única em cada indivíduo.
É também possível colher informação direta sobre o processo da hipnose e da profundidade do transe usando-se um tipo de indução fracionada.
Com o método fracionado de induzir a hipnose, o processo é dividido em estágios e o paciente é questionado a cada ponto para uma descrição verbal de sua experiência particular. Desse modo o hipnotista pode aprender muito sobre a experiência do relaxamento e do transe enquanto estes ocorrem em outros.
A principal idéia por trás do método fracionado (também conhecido como o fracionamento de Vogt) é descobrir a experiência pessoal do paciente a medida que este entra em transe e então ‘retroalimentar’ esta informação para levá-lo a um transe mais profundo. As pessoas sob hipnose permanecem relaxadas nos primeiros estágios do transe e então são acordadas e questionadas a respeito de sua experiência particular com a hipnose, e esta informação é então usada para ajudar a pessoa a ir mais fundo no transe. O paciente, portanto, de maneira muito real está descrevendo a melhor maneira de ser hipnotizado! Este tipo de indução não é tão rápido quanto outros métodos, mas sua natureza interativa parece levar aos estados mais profundos do transe. Este método de indução de hipnose é descrito em muitos cursos e livros de hipnose, mas como está além do escopo deste artigo, o estudante é aconselhado a pesquisar estas informações.
Além dos métodos de se avaliar a profundidade do transe através da observação, existem também testes físicos que fornecem ao hipnotista informações valiosas sobre o que acontece na hipnose.
O teste mais comum é o da catalepsia, geralmente das pálpebras. Aqui pede-se ao paciente para relaxar profundamente os músculos das pálpebras, tão profundamente que estas não se abrirão. Este é um excelente teste de relaxamento, suscetibilidade e vontade de cooperar com o processo da hipnose.
É possível também pedir ao paciente para olhar para cima com seus olhos (a cabeça permanecendo imóvel) como se para um ponto no topo da cabeça e, quando tiver feito isto, você pode informá-lo que não pode abrir suas pálpebras. Geralmente é muito difícil abrir as pálpebras com os olhos direcionados para cima e isto pode convencer seu paciente da eficácia das técnicas. Mas este também é um ‘truque’ fisiológico muito conhecido e pode facilmente também levantar suspeitas.
Outro teste para se medir o nível de relaxamento que apresenta ainda o benefício de permitir com que se teste o aumento da temperatura do corpo (que indica um estado de transe profundo de intensidade média) é a técnica da suspensão da mão. Depois de avisar o paciente (cujos olhos com certeza estarão fechados) que você irá levantar sua mão, levante-a gentilmente e então solte-a. A mão de uma pessoa relaxada cairá frouxamente. Note o quanto frouxa, quente e flexível a mão parece estar. Sugestões podem ser acrescentadas a esta técnica de teste. Por exemplo, poderia ser sugerido que “enquanto sua mão cai, você pode aprofundar cada vez mais em sua hipnose”, ou ainda “enquanto sua mão cai em seu colo você ficará duas vezes mais relaxado”.
Finalmente uma técnica cognitiva para testar a profundidade do transe que não depende da observação ou de testes físicos. Aqui o hipnotista verifica se há amnésia (um fenômeno hipnótico importante), geralmente pedindo ao paciente para contar de trás para frente a partir do número 300 (o número em questão não é muito importante, mas deve ser suficientemente grande para estar fora da abrangência da contagem ‘automática’) e sugerindo que um ponto logo será alcançado quando os números serão esquecidos. Se um transe apropriado existe, a sugestão será aceita e o paciente esquecerá a cadeia numérica de pensamento. Este método apresenta o benefício adicional de que mesmo se o paciente não tiver ainda alcançado a profundidade adequada do transe naquele momento, o processo de contagem pode bem auxiliar a provoca-lo!
Na maioria dos propósitos práticos, o hipnoterapeuta estará mais preocupado em certificar-se de que existe transe suficientemente profundo para a terapia, em vez do objetivo mais acadêmico de aferir a profundidade do transe atingido. Parece haver um consenso de opiniões de muitas fontes eruditas que a profundidade do transe pode não ser uma preocupação muito importante e que a terapia eficaz pode acontecer com a condição de que pelo menos um nível leve de hipnose seja estabelecido. Isto pode muito bem ser verdade, mas obter um estado hipnótico de médio para profundo apresenta duas vantagens:
• Inspira confiança no hipnotista, que melhora o desempenho pessoal e sendo percebido — se bem que de forma subliminar — pelo paciente.
• É um persuasor hipnótico e enquanto pode não ser mais terapêutico do que um estado de transe leve, contrasta mais com a consciência normal desperta e assim ajuda a convencer o paciente a se convencer de que algo ’significativo’ ocorreu.
Neste curto texto eu usei a convenção de dividir a profundidade do transe hipnótico em três estágios: leve, médio e profundo, pois isto parece suficiente para meus propósitos. Devo observar, entretanto, que existem vários sistemas de classificação, alguns mais antigos que outros. A diferença geralmente está na divisão e na nomenclatura, pois a natureza do estado deve ser uma constante. Mas o estudante pode encontrar as seguintes descrições dependendo da fonte da informação: por exemplo, Letargia, Catalepsia e Sonambulismo ou Hipnoidal, Sonambulismo, Coma / estado de Esdaile, Hipnose ligada ao sono.
É importante entender que a ‘profundidade do transe’ não se refere a um estado objetivo ou quantificável, mas é caracterizado pelos fenômenos disponíveis naquele estado, com isso equacionando a profundidade do transe com a sugestibilidade. A catalepsia das pálpebras, por exemplo, é bem fácil de se obter e portanto quando este fenômeno está presente, podemos chamar a profundidade do transe como ‘leve’. O controle da dor torna-se disponível como um fenômeno hipnótico somente quando o paciente torna-se mais sugestionável e quando este fenômeno ocorre podemos chamar a profundidade do transe como médio, e assim por diante. Amnésia total ou alucinação positiva/negativa estão entre os fenômenos hipnóticos mais extremos e exigem maior sugestibilidade e, portanto, quando este fenômeno acontece podemos chamá-lo de estado de transe profundo.
Tom Connelly é o editor da Revista gratuita online sobre Hipnose e Hipnoterapia no site hipnos.co.uk. Ele estudou hipnose clínica no London College of Clinical Hypnosis e trabalha como hipnoterapeuta em East Yorkshire, Inglaterra
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